Capítulo 1 – Preparação

Esta atividade estava pensada para acontecer no ano passado, em 2024. No entanto, alguns problemas de comunicação com os locais de alojamento — que se foram arrastando também durante a preparação deste ano — obrigaram-nos a adiar tudo para 2025.

Apesar disso, começámos a preparar-nos logo no início do ano escutista, em setembro de 2024. Houve uma atividade no Marão para treinar caminhada em montanha, várias reuniões para decidir os primeiros passos e também algumas ações de angariação de fundos organizadas pelos pioneiros. Mas, para ser sincero, para mim tudo isto só começou a ganhar corpo a 12 de abril.

Atividade no Marão

Picos a Vista, o primeiro contacto e a procura por um local de dormida.

Na madrugada de 12 de abril, eu e mais dois dirigentes (Luís Mario e Tim) da equipa de animação da 3.ª Secção do 708 Mateus pusemo-nos a caminho dos Picos. Saímos de Vila Real determinados a encontrar o local certo para acampar durante a atividade. Foi aí que senti, pela primeira vez, que a ideia deixava de ser apenas planos e papéis, e começava finalmente a tornar-se realidade.

Chegámos a Cangas de Onís por volta da hora de almoço e, entre hambúrgueres, bocadillos e uns quantos copos de sidra (quente 😓), pusemos em cima da mesa os passos a seguir. Primeiro iríamos visitar o parque de campismo de Cangas, por ser o mais próximo. Depois seguiríamos para outro, mais afastado, perto de Avín. Finalmente, passaríamos por Covadonga para perceber de que forma seria possível o autocarro que nos transportasse chegar até ao início do primeiro trilho, nos Lagos de Covadonga.

E assim foi. De estômago cheio, lá fomos até ao primeiro parque de campismo. Mas, para nosso azar, estava fechado. Nem uma alma para nos dar qualquer informação. Seguimos então para o segundo. Este, felizmente, estava aberto. Só que a nossa sorte não melhorou: o rapaz da receção explicou-nos que, para as datas que pretendíamos — não só em agosto, mas também em julho inteiro — já não havia qualquer vaga disponível.

Uma Luz ao fundo do tunel

Depois de vários telefonemas para um colega — que viríamos a conhecer como o Sr. Ramón, o nosso verdadeiro salvador nesta procura até então infrutífera de guarida — fomos informados de que talvez tivéssemos sorte num albergue próximo. Não tinha disponibilidade para os dias exatos que pretendíamos, mas sim para a semana seguinte. Mesmo assim, decidimos ir ver o espaço.

Seguindo o Sr. Ramón, que se juntou a nós no parque, acabámos por chegar a uns edifícios perdidos no meio de um vale. À volta, um relvado extenso, ladeado por um riacho, e à frente, uma vista deslumbrante para os picos das montanhas.

À primeira vista, parecia o local perfeito para ficarmos durante aqueles quatro dias de agosto. A impressão só se reforçou quando vimos a cozinha totalmente equipada: pratos, talheres, frigoríficos, arcas e fogões — tudo o que precisávamos. Assim, ficava resolvido um dos grandes problemas da logística: a alimentação. E, como se não bastasse, o preço era ainda mais baixo do que se ficássemos acampados.

Enquanto falávamos com o nosso recém-descoberto “estalajadeiro”, ele contou-nos que ali perto existiam umas cuevas (grutas, em português) que tinham sido arranjadas e transformadas num museu de paleontologia, com estátuas de animais extintos que em tempos tinham habitado aquelas redondezas. Tal era a simpatia do homem, que fez questão de nos oferecer uma pequena visita guiada ao museu. Assim, saímos daquela localidade não só com um local de alojamento garantido, mas também já com uma atividade para o primeiro dia.

De um lado para o outro – subida aos Lagos de Covadonga

Com o alento de termos cumprido o principal objetivo desta viagem, seguimos para o segundo ponto: perceber como funcionava o acesso do autocarro aos Lagos de Covadonga. Subimos até Covadonga, estacionámos e fomos a uma barraquinha que lá havia, perguntar como seria possível. O senhor que nos atendeu, bastante simpático, explicou que não era com ele — ele tratava apenas dos bilhetes para os autocarros da ALSA, a empresa com a concessão de transporte até aos Lagos. Aconselhou-nos a perguntar às senhoras que estavam noutra barraquinha, junto às cancelas.

Aqui tenho de confessar que me distraí um pouco. Entre explicações que não ficaram muito claras, percebemos que teríamos de regressar a Cangas e procurar o edifício da sede do Parque Nacional, onde nos poderiam dar mais informações. Demos um pequenissima vista de olhos ao santuario que lá se encontrava e descemos para Cangas.

De novo em Cangas de Onís

Já na cidade, encontrámos o edifício que nos tinha sido indicado: uma casa brasonada em pedra, rodeada por um pequeno jardim. Mesmo em frente havia uma maquete dos Picos da Europa, onde ficámos largos minutos a observar os trilhos que iríamos percorrer uns meses mais tarde, assim como outros que elementos do nosso agrupamento tinham feito… imagine-se, há já um quarto de século.

Lá dentro, fomos recebidos pela rececionista, que nos deu todas as informações de que precisávamos. Explicou que, para o autocarro poder subir, teríamos de enviar um pedido por e-mail, indicando os dados da empresa e do veículo que seria utilizado no transporte. Aproveitou ainda para nos entregar alguns mapas e dar dicas úteis sobre as caminhadas que tínhamos em mente. Foi então que, quase como quem lança um desafio, nos contou que no agosto anterior tinha chegado a nevar em alguns dos trilhos que nós próprios iríamos percorrer este ano. Saímos dali um pouco apreensivos… mas também ainda mais curiosos e motivados.

Volta a Portugal e um caro incidente

Com todos os objetivos alcançados, decidimos regressar a Portugal. Ainda assim, não resistimos a fazer uma última paragem: havia uma praia que já tínhamos em mente visitar no último dia da atividade e quisemos ver em que estado se encontrava agora.

Andámos alguns minutos meio perdidos à procura da estrada que nos levasse até lá, mas acabámos por encontrar o caminho certo. Quando chegámos, ficámos um bom bocado a contemplar a paisagem: o lugar era realmente muito bonito. Esticámos as pernas, respirámos fundo o ar fresco e aproveitámos aquele momento para nós. Mas não demorámos muito. A viagem de regresso ainda estava pela frente — cerca de quatro horas, se não houvesse precalços…

E claro, houve um. Já de volta, à entrada de uma nacional, apanhámos um sinal de cedência de passagem. Olhámos, não vimos ninguém e avançámos. Só que, de repente, surgiu um carro a alta velocidade, saído de uma curva com pouca visibilidade. O condutor desviou-se para a via ao lado — que nós pensávamos ser da nossa mão, mas afinal era a contramão. E, como se não bastasse, logo ali à frente estava um carro da Guardia Civil.

Luzes ligadas, ordem para encostar… e nós a perceber que o caldo estava entornado. Perdemos ali uns bons minutos enquanto os guardas tratavam do assunto. Quando finalmente nos deixaram seguir, estávamos atrasados e o condutor do nosso carro tinha menos 100 € na carteira.

O resto da viagem fez-se sem mais sobressaltos. Chegámos a casa por volta da meia-noite, cansados, mas com a sensação clara de missão cumprida: tínhamos partido com objetivos bem definidos e voltávamos com tudo preparado.

Noites de reuniões, apresentações e o coutdown para a atividade

Ficou então decidido que, tendo os primeiros passos já sido dados, seria necessário avançar com outras etapas: reuniões para definir o plano final da atividade, uma apresentação aos pioneiros, outra aos dirigentes e caminheiros, e finalmente aos pais dos participantes menores.

E assim foi. Seguiram-se meses de reuniões de preparação, onde se definiram tarefas para todos, levantaram-se os documentos necessários, informou-se a quem de respeito (junta regional e nacional do CNE) que iriamos efetuar esta atividade e elaboraram-se orçamentos tanto para o transporte como para a alimentação.

Numa das noites em que estava marcada uma dessas reuniões — para a qual o Chefe Pires, muito gentilmente, cedeu a sua casa — houve uma pequena falha de comunicação. O resultado foi que, em vez de discutirmos o que nos tinha levado a reunir, acabámos a trocar ideias entre minis, tremoços e umas quantas tacadas de bilhar.

Ao longo dos sábados, os pioneiros foram tratando das ementas, das escalas de serviço, de ideias para jogos e até do fogo de conselho.

As apresentações acima mencionadas acabaram por ser realizadas com sucesso e, pouco a pouco, tudo se alinhava. Estava praticamente tudo pronto para a contagem final dos dias que nos separavam dos Picos da Europa. Restavam apenas uns pequenos pormenores por acertar…

Falta duas semanas

Fizemos ainda uma última apresentação dedicada às dicas de caminhada em montanha que faltavam. Os pioneiros, todos reunidos na sala da direção, ouviram atentamente: que calçado e meias usar, que roupa levar, que mochilas eram as mais apropriadas, e o que fazer em caso de trovoada ou chuva. A animação era tanta que, no meio da explicação, uma pioneira até acabou por cair para o lado — felizmente sem nada de grave, mas suficiente para arrancar um susto ao grupo.

Faltavam 11 dias quando tivemos uma reunião com o Romeu, o motorista do nosso autocarro — e também marido da Cristiana, candidata a dirigente do nosso agrupamento. Estávamos a decidir os caminhos a seguir e as paragens a fazer. Foi então que, ao planear o 3.º dia, surgiu o dilema: a ideia era levar o autocarro de Cangas de Onís até Caín, o ponto de início do trilho da Garganta Divina del Cares.

O problema? Ao analisar a estrada entre Posada de Valdeón e Caín no Google Maps, logo percebemos que aquilo não parecia ter espaço para um autocarro passar. E não é que, ao confirmar, descobrimos que afinal a estrada estava mesmo proibida a veículos pesados? Lá tivemos de repensar os planos: ou arranjávamos mini-autocarros que fizessem esse transfer, ou então teríamos de acrescentar mais 9 km de trilho à caminhada.

Quando já só faltavam 7 dias, surgiu outra preocupação: a meteorologia. A previsão apontava para chuva. E, embora o tempo não fosse frio para a cidade de Cangas de Onís, sabíamos bem o que isso significava: se chovia lá em baixo, cá em cima nas montanhas podia muito bem ser neve. Afinal, a rapariga do Parque Nacional já nos tinha avisado.

Ainda assim, ninguém desanimou. Um bocado de chuva — ou até de neve — nunca travou nenhum transmontano.

Falta uma semana

A previsão meteorológica ia melhorando a cada dia que passava e já tínhamos os documentos prontos para enviar ao Parque Nacional. Faltava apenas uma última coisa: as compras.

Dois dias antes da partida, lá fomos nós, munidos da lista, ao Recheio. A aventura começou logo à entrada — ninguém me tinha avisado que os carrinhos de lá eram bem mais difíceis de conduzir do que os normais do supermercado. Lá ia eu, aos “esses”, a bater contra as arcas frigoríficas, até que finalmente apanhei o jeito.

E depois começou a verdadeira odisseia:
“Olhe, onde está a massa sem glúten?”
“E o leite sem lactose?”
“Será que uma lata de 50 salsichas chega?” (não chegou 😅)
“E o preço destas azeitonas?” (acabaram por nem ser usadas 😅)
“Não têm mais batatas palha? Precisamos de 9 pacotes!”
“E pão de cachorro? Também não há?…”

Entre risos, improvisos e algumas desistências, lá fomos enchendo os carrinhos com tudo o que era preciso para enfrentar os Picos.

No fim, só nos faltavam dois itens cruciais: barrinhas de cereais e pães de cachorro, ambos em grandes quantidades. E claro… não havia no Recheio. Lá fomos então ao Auchan, onde praticamente esvaziámos a prateleira das barrinhas — se a memória não me falha, foram 60 pacotes, num total de 360 barrinhas. O rapaz da caixa não conseguiu conter o riso. Quanto aos pães de cachorro, só havia quatro míseros pacotes, por isso ainda tivemos de passar no Intermarché e repetir a “operação esvaziar prateleiras”.

E assim, finalmente, estava tudo pronto para partir

Obrigado por terem lido até aqui. 🚩
Voltamos nos próximos capítulos para partilhar as peripécias — agora já não da preparação, mas sim da grande aventura que foram os PICOS DA EUROPA.


2 comentários a “Picos da Europa com os Scouts (708 Mateus) – Capitulo 1”

  1. Avatar de Alice Guedes
    Alice Guedes

    Um bom relato da preparação, parece que está a sobressair uma ” veia” jornalística.

    Para Dirigente sugiro:
    – relato mais pormenorizado da ação dos pioneiros na preparação.
    – faltou ainda descrever como decorreu a atividade de preparação(Marão). Em que medida consideramos esta atividade como preparação. Não pode ter sido só para preparação física de caminhada em montanha.
    – por último, e muito importante, orçamento, programa e logística mais detalhada.

    Tudo isto para o relatório final de uma atividade de estágio.

    Mas, está uma descrição leve, agradável e fiel aos acontecimentos. Uma excelente memória para futuro.
    BEM HAJAS

    1. Avatar de Behind the Mountains

      Muito Obrigado Chefe Alice, agradeço as dicas e serão tidas em conta nos relatórios de atividade que escreverei. Neste caso estava a escrever algo mais narrativo e de mais fácil leitura, tanto que há peripécias que nunca colocaria num relatório ahahahah

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